O liberal sueco

Jan Björklund é um cara gente-fina. Além de boa praça, ele é também Vice-Primeiro-Ministro, Ministro da Educação, Líder do Partido Liberal e pai de família. Não necessariamente nessa mesma ordem.

Este final de semana foi pesado para Jan. Entre sexta e domingo foi realizado a convenção anual do seu partido, a última antes das eleições gerais de 2014. Sim, os suecos também vão às urnas no ano que vêm.

Jan tem muito trabalho pela frente. A “Aliança”, que junta o partido liberal, o moderado, o do centro e os democratas-cristãos, governa a Suécia deste 2006 e está apanhando nas pesquisas para a oposição melancia,”verde-vermelha”, que junta o partido social-democrata, o verde, e o da esquerda (comunista). Jan precisa defender o legado histórico de seu partido para um eleitorado ávido por mudanças. Qualquer semelhança não é mera coincidência.

Conforme o Rodrigo Constantino afirmou em seu artigo “O Vale das Quimeras” (http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/historia/o-vale-das-quimeras/), é consenso aqui na Suécia que o alto nível de desenvolvimento econômico e social de que goza hoje o país é fruto das reformas liberais dos anos 1990 e 2000, e não do paternalismo social-democrata, que jogou o país na maior crise financeira da sua história.

No início dos anos 1990, o déficit público sueco havia explodido, fruto da expansão dos gastos do governo intensificada a partir dos anos 1960. Uma crise bancária aliada a um ataque especulativo contra a coroa sueca espalhava pânico no outono de 1992, ao ponto de o governo se ver forçado a elevar as taxas de juros a 500% para estancar a fuga de capitais do país. “O céu é o limite”, disse o então Presidente do Banco Central sueco, Bengt Dennis, em uma conferência de imprensa.

Em novembro do mesmo ano, o governo conservador de Carl Bildt (atual Ministro dos Assuntos Estrangeiros) iniciou uma série de reformas liberalizantes, baseadas no tripé saneador da economia: câmbio flutuante, metas de inflação e responsabilidade fiscal. Novas medidas de liberalização do mercado de trabalho, redução da carga tributária e privatização seguiram-se nas décadas seguintes, o que imunizou a Suécia, de certa forma, contra a atual crise financeira.

As reformas liberais tinham como foco aumentar a autonomia do indivíduo. Hoje o cidadão sueco pode escolher livremente os seus médicos e a escola dos seus filhos, via o sistema de vouchers, o que não podia fazer nos anos 1970 (o sistema era estritamente vinculado à área de residência da pessoa, sem possibilidade de escolha).

O Partido Liberal sueco é agremiação com mais credibilidade perante o eleitorado em assuntos relativos à educação, igualdade de gênero e defesa. E por quê? Justamente porque o foco dos liberais está no indivíduo e na sua condição cotidiana.

Jan vai comandar um partido preparado para defender o seu legado, dentro da “Aliança”, precisamente nessas três áreas nas eleições de 2014. Os liberais querem um salário mais alto para os professores, menos impostos e mais igualdade no mercado de trabalho (via aumento da licença-paternidade, e não quotas para mulheres).

Para a leitora interessada em mais detalhes sobre a plataforma do Partido Liberal sueco, sugiro a leitura do discurso de Jan Björklund no congresso deste final de semana (http://www.folkpartiet.se/jan-bjorklund/tal/tal-av-jan-bjorklund-vid-folkpartiets-landsmote-i-vasteras-den-14-nov-2013/). O texto é em sueco, mas o google translator deve dar conta do recado.

Por fim, um testemunho pessoal sobre Jan. Na primavera deste ano, quando ia ao Brasil, dividimos o mesmo vôo até Frankfurt. Jan, acompanhado da esposa Anette e dos filhos Jesper e Gustav, veio logo atrás de mim na fila de embarque (única e longuíssima). Sentaram todos, algumas poltronas atrás de mim, na classe econômica. Quem dera 10% dos políticos brasileiros fossem como o liberal sueco: simples, humano e sério. Gente fina de verdade.

O futuro começa na sala de aula.

O futuro começa na sala de aula.

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